quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Identidade - como definida por Clarice Lispector

 Imagem: tempodesaturno.blogspot.com

"[...] O resto era o modo como pouco a pouco eu havia me transformado na pessoa que tem o meu nome. E acabei sendo o meu nome. [...] Cumpri cedo os deveres de meus sentidos, tive cedo e rapidamente dores e alegrias - para ficar depressa livre do meu destino humano menor? e ficar livre para buscar minha tragédia.
Minha tragédia estava em alguma parte. Onde estava o meu destino maior? um que não fosse apenas o enredo de minha vida. A tragédia - que é a aventura maior - nunca se realizara em mim. Só o meu destino pessoal era o que eu conhecia. E o que eu queria.
Em torno de mim espalho a tranquilidade que vem de se chegar a um grau de realização a ponto de  ser G.H. até nas valises. Também para a  minha chamada vida interior eu adotara sem sentir a minha reputação: eu me trato como as pessoas me tratam, sou aquilo que de mim os outros veem. Quando eu ficava sozinha não havia uma queda, havia apenas um grau a menos daquilo que eu era com os outros, e isso sempre foi a minha naturalidade e a minha saúde. E a minha espécie de beleza. Só meus retratos é que fotogravavam um abismo? um abismo.
Um abismo de nada. Só essa coisa grande e vazia: um abismo."
(LISPECTOR, C. A Paixão Segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 24-25.

Um comentário:

  1. Lindo texto!Arrasou na escolha, amo a Clarice!!!
    E a propósito, Ana Ribeiro é a mesma que Anamélia?rsrsr!!!Foi com esse nome q te conheci.
    Na vida temos que ousar. O cotidiano é medonho e ansioso.

    "A full life can be the one to reach as complete an identification with the non-self no more self to die."

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Sentença

 Todo mundo vai morrer. Mas ninguém devia morrer de câncer. Porque de câncer não se morre... se vai morrendo... O gerúndio como o grande mal...